Sem enrolação: Futebol, Esporte Especializado e Olimpíadas

Essa semana eu li uma notícia no site da uol com o seguinte título “Destaque na TV aberta, final de vôlei rende baixa audiência à Band”. Resumidamente a matéria diz que é perda de tempo transmitir voleibol na TV Aberta no horário do futebol, pois a audiência do futebol é maior: “acostumada a alcançar de 5 a 6 pontos no Ibope, a emissora paulista registrou modestos 3,2 com a conquista de Bernardinho e companhia”.

Não posso ficar calado e somente engolir isso, pois antes é preciso mostrar os dois lados da moeda. O que o jornalista em questão não fez. Dar a opinião a cerca do tema é a atividade do jornalista, comentarista ou blogueiro, mas tentar impor sua opinião massacrando uma década de vitórias límpidas e brilhantes não contribuem para que o brasileiro admire o vôlei. Quando todos os títulos estão aí para comprovar que somos o país do voleibol, conseguindo todos as taças em todos os níveis e competições possíveis, e em todas as categorias, uma verdadeira e legítima supremacia mundial. Somos invejados pelo resto do mundo e não valorizamos isso.

Lamentável que o esporte deste país se resuma ao futebol. Como é possível que o brasileiro goste de esporte olímpico se ele não é transmitido na TV aberta?

Dá desassossego ver comentaristas esportivos falando sobre basquete, vôlei, atletismo. O comentário não vai adiante, deriva para os piores lugares comuns, para a enrolação. Os repórteres não sabem formular as questões. O programa perde “pique”, fica chôcho, inconsistente. São profissionais que não têm conhecimento técnico sobre esportes além do futebol. E como são honestos – em larguíssima maioria – sinto-os constrangidos até com a pouca informação que possuem. Com o pouco espaço que abrem aos demais esportes.

Ficam em constrangido achismo, bem superficial. Da mesma maneira que os programas esportivos das emissoras de rádio e TV brasileiras são apenas programas futebolísticos.

- REALIDADE

Tenho certeza que a BAND deu exemplo. Ela foi corajosa. Eu sou testemunho da paixão pelo voleibol e penso que essa paixão está conquistando mais e mais brasileiros. Assim como eu, cada fez mais conheço pessoas que sofrem quando seu time perde na Superliga, que ficam de mal humor, batem boca, choram de emoção, fazem loucuras, gastam dinheiro, viajam para acompanhar os jogos. Eu, por exemplo, assisto todos os jogos na televisão dos campeonatos, mesmo quando meu time não está em quadra para analisar o desempenho dos futuros adversários. Também assisto campeonatos dos outros países, copas, taças e etc. E também acompanho o que acontece nas categorias de base.

Acredito que se não houvesse tanto monopólio do futebol, naturalmente, mais pessoas teriam essa paixão. Não só pelo voleibol como por outras modalidades. Mas claro que futebol e voleibol são esportes diferentes e fica difícil compará-los. Para começar o futebol tem muito mais dinheiro, força política, vaidade, estrutura, público, espaço, patrocinadores. Então como falar de qualquer esporte olímpico, se não sobra espaço?

Sinceramente não vejo só com bons olhos o sediamento das Olimpíadas. Ganharemos em insfraestrutura? Com certeza como nunca antes visto nesse país. Haverá espaço na mídia para todas as modalidades? Sim, recheada de várias histórias de vida de muitas pessoas que passam dificuldades para praticar esporte. O Brasil será destaque no mundo todo? Sim, mas eu pergunto: E depois? Será que o esporte especializado cairá no esquecimento novamente?

Desde que conquistamos o direito de sediar as Olimpíadas não ouvi falar em política esportiva. Só ouço falar de transporte, vila olímpica, show de abertura, ginásios. Além de muito futebol, futebol e futebol de segunda-feira a segunda-feira.

Será que o governo não sabe que os outros esportes depende da abdicação de vários profissionais para existirem? Não sabe que a maioria dos clubes formadores de atletas ou fecharam as portas ou lutam para fazer um esporte, muitas vezes, “inexpressivo”? Não sabe que os grandes clubes na maioria das vezes ou são elitizados ou querem receber o atleta pronto para por sua marca? Não sabe que lei de incentivo é para quem tem nome? Não sabe que somente a tributação gasto com um árbitro equivale ao imposto pago por serviço de profissional autônomo?

Na minha opinião são essas questões que deveriam ser discutidas pelos nossos jornalistas. Como os ginásios no Brasil que são insuficientes, pequenos ou obsoletos. Por exemplo, o Mineirinho em Belo Horizonte está caindo aos pedaços, em cada evento precisar fazer uma maquiagem, tapar um buraco aqui, por mais cadeira ali, tapar o sol com a peneira.

Acredito que existe sim uma resistência da grande maioria dos jornalistas esportivos a outras modalidades. Mais tenho certeza, se esses jornalistas conhecessem a dificuldade de fazer esporte no Brasil no dia a dia. Eles iriam no mínimo ficar mais sensibilizados com o voleibol. Pois foi com muita organização e trabalho, que o voleibol e todos que trabalham nele diretamente ou indiretamente, conseguiu e está conseguindo quebrar um paradigma.

Torço para que o voleibol seja apenas a primeira modalidade a ter destaque fixo na grande mídia, abrindo portas para o handball, basquete, atletismo, ginástica, futsal, dentre outros. Torço mais do que isso, para que o poder público ajude os pequenos clubes, leve o esporte nas suas diversas modalidades para as escolas públicas, ajude financeiramente o atleta amador que se destaca e a sua família, invista em projetos; que não faça esporte só para obter votos, mas faça esporte para dar dignidade aos jovens.

Porque entre os diversos temas, os nossos candidatos à Presidente nunca discutem sobre políticas esportivas?

Parabéns BAND pela escolha. Vocês acertaram em cheio.